sábado, 15 de maio de 2010

Quase

Ainda pior que a convicçao do não e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me mata trazendo tudo o que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oprtunidades que escaparam pelos nossos dedos, pelas chances que se perderam por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna, ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos bom dia quase que sussurrados. Sobra indiferença e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir nada, mas não são. Se a virtude tivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam niblados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflinge nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um tras dentro de si. Não é que fé mova montanhas nem que as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a chance de merecer. Pros erros há o perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossóveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar a alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando do que sonhando, fazendo que planejando, vivendo do que esperando porque, embora quem quase morra esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Luiz Fernando Veríssimo

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